terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Protesto na Curva da Sereia e lama no mar de Vila Velha




Nem mesmo o protesto contra a dragagem da Vale neste sábado intimidou a embarcação da empresa de jogar muita lama na altura da Ilha dos Pacotes, em Vila Velha. Enquanto os manifestantes falavam sobre o risco que é a operação “bota fora” nas praias do município, a draga passava próximo e jogava todo o lixo tóxico nas águas.
Banhistas, turistas e trabalhadores que fazem da praia o seu sustento e o de sua família receberam panfletos explicativos sobre o risco que representa para Vila Velha a dragagem e o “bota fora”.
Vários membros do Fórum Ambiental Popular Permanente (FAPP) assumiram o microfone da organização e alertaram as pessoas que passavam pela Curva da Sereia sobre os malefícios que representam a manobra no mar.
O presidente da Associação dos Moradores da Praia da Costa (AMPC), Sebastião de Paulo, manifestou a indignação das pessoas que costumam praticar esportes, que moram e que trabalham nas praias canelas-verdes.
“Ninguém tem noção da gravidade disso. São danos à vida marinha e que repercutem nas nossas vidas. Este trabalho que estamos realizando é uma atividade de formiguinha. Não podemos parar. Além da dragagem da Vale, ainda existem as dragagens da Nisibra, da Codesa e da Jurong que estão para começar”, apontou o dirigente da associação.
A força dos políticos no movimento é de extrema importância. O vereador de Vila Velha João Batista Babá (PT) deixou sua mensagem de repúdio ao que está ocorrendo no mar canela-verde.
“Temos que mostrar o que as empresas estão fazendo nas nossas praias antes que seja tarde demais. A sociedade tem que ser alertada e deve se preocupar com o meio ambiente. O nosso movimento começou pequeno, mas vemos que já tomou corpo e existem muitas pessoas preocupadas com o absurdo que é o despejo de lixo tóxico”, disse o parlamentar.
Também participou do movimento o deputado estadual Dr. Hércules da Silveira. Para ele, é a hora das autoridades do Estado mostrarem à sociedade como foi concedida a licença ambiental para a operação de dragagem.
“Precisamos cobrar do Ministério Público uma atitude de solicitação de dados sobre a forma em que foi concedido o licenciamento ambiental para que a draga começasse a operar em Vila Velha. E não é somente para esta operação, mas também para as operações que estão para começar”, alertou o parlamentar.
Um dos reforços mais importantes do movimento é o do técnico em dragagem Jamerson Scher. Ele explica que o protesto do FAPP não é contra o desenvolvimento do Estado, mas contra a forma com que a Vale, especificamente, está descartando o lixo tóxico.
“Existe um espaço entre o Terminal da Vale e o Terminal de Carvão da Arcelor que poderia servir de área para o armazenamento desses dejetos retirados do mar. E essa propriedade não interferiria na movimentação comercial das empresas. Eles reaproveitariam esta área vaga num pátio de armazenamento”, explicou Jamerson.
Segundo ele, há outras formas de realizar o descarte do material. Ele detalhou como seria feito esse armazenamento.
“Em Santos, a Cosipa deu início a esse tipo de trabalho. Lá o lixo é confinado numa espécie de cercados, possibilitando o afundamento. Além de não poluir, também diminui o custo da operação. Basta realizar a preparação do terreno. A draga não precisaria avançar 15, 20 ou 25 quilômetros no mar”, destacou o técnico em dragagem.
E Jamerson ainda acrescentou que no Rio de Janeiro o descarte é feito de outra forma. Utiliza-se os chamados “blue bags” (sacos azuis).
“São grandes mantas em forma de sacos que poderiam ser utilizados na preparação de solo para grandes aterros, por exemplo”.
A draga que opera entre o Porto de Tubarão e a Ilha dos Pacotes faz uma média de quatro viagens a cada cinco horas. Vale lembrar que a operação não para com o cair da noite.